HISTÓRIAS DE FRONTEIRA

Castelo Rodrigo, uma das 12 aldeias históricas de Portugal. Fiz dela minha base, em setembro do ano passado, para as visitas ao Museu do Côa e às gravuras rupestres de Penascosa e da Ribeira de Piscos. O lugar é descrito assim no site Visit Portugal:

“Do topo de uma colina, a pequena aldeia de Castelo Rodrigo domina o planalto que se estende para Espanha, a leste, até ao vale profundo do Douro, a norte. Segundo a tradição, fundou-a Afonso IX de Leão, para doá-la ao conde Rodrigo Gonzalez de Girón, que a repovoou e lhe deu o nome. Com o Tratado de Alcanices, assinado em 1297 por D. Dinis de Portugal, rei e poeta, passou para a coroa portuguesa.

Castelo Rodrigo conserva as marcas de alguns episódios de disputa territorial. O primeiro deu-se menos de 100 anos após sua integração a Portugal, durante a crise dinástica de 1383-1385. D. Beatriz, única filha de D. Fernando de Portugal, estava casada com o rei de Castela. Por morte de seu pai, e com sua subida ao trono, Portugal perderia sua independência em favor de Castela. Castelo Rodrigo tomou partido por D. Beatriz, mas D. João, Mestre de Avis, veio a vencer os castelhanos na Batalha de Aljubarrota, em 1385 – e, por esse feito, foi coroado rei de Portugal com o nome de D. João I.

Como represália pelos senhores de Castelo Rodrigo terem tomado o partido por Castela, o novo rei ordenou que o escudo e as armas de Portugal fossem representados em posição invertida no seu brasão de armas. Mais tarde, no século 16, quando Filipe II de Espanha anexou a Coroa Portuguesa, o governador Cristóvão de Moura tornou-se defensor da causa de Castela, vindo a sofrer a vingança da população que lhe incendiou o enorme palácio em 10 de dezembro de 1640, logo que lá chegou notícia da Restauração (ocorrida a 1º de dezembro), ficando desta história antiga as ruínas no alto do monte, junto ao castelo.

Lugar de passagem dos peregrinos que se dirigiam a Santiago de Compostela, contam as lendas que o próprio São Francisco de Assis aqui teria pernoitado na sua peregrinação ao túmulo do santo. Revolvida à sua quietude, Castelo Rodrigo merece uma visita pelas suas glórias passadas, pela beleza e limpidez do lugar, pelo seu casario intramuros, pelo seu pelourinho manuelino e ainda pela comovente imagem de Santiago Matamouros guardada na Igreja do Reclamador.”

Aldeias Históricas

Castelo Rodrigo: no topo de uma colina com 820 m de elevação

© Foto: Eduardo Lima / Walkabout – Todos os direitos reservados

MAR DE VINHEDOS

A Quinta de Ervamoira, no Douro Superior, vista de três pontos distintos: de longe, desde o Miradouro de São Gabriel, em Castelo Melhor; mais de perto, da estrada que leva ao sítio arqueológico de Penascosa; e bem de pertinho, ou melhor, lá … Continuar lendo

ARTE PRIMITIVA. PRIMITIVA?

De volta ao Parque Arqueológico do Côa para uma rápida visita ao núcleo de arte pré-histórica da Ribeira de Piscos. Dei um azar danado quando lá estive, em setembro do ano passado. Tempo ruim, com chuvisco indo e vindo a todo instante, e uma luz difusa que me proporcionava quase nada de contraste. Algumas gravuras, como a dos cavalos com as cabeças enlaçadas da rocha 1, estavam bem “sujas”, cobertas de sedimentos por causa dos aguaceiros nos dias anteriores. Resultado: fotos muito ruins. Publicáveis, só a do auroque da rocha 13, mostrada aqui em novembro, e mais meia dúzia ou um pouco mais. Quatro dessas eu reúno neste post.

Visual perto da foz da Ribeira de Piscos, que desagua no Côa

Visual do Côa nas proximidades da foz da Ribeira de Piscos: escola paleolítica de Belas Artes

Pesquisando na web, fui parar no blog PhotoArch, que escreve assim sobre a Ribeira de Piscos: “Os critérios que permitiram datar esse vasto conjunto artístico foram vários. No caso do Paleolítico Superior (que, em Portugal, corresponde ao período compreendido entre cerca de 30 mil e 10 mil anos antes do presente), recorreu-se em primeiro lugar à identificação das espécies figuradas. O cavalo e o auroque (o antepassado selvagem dos actuais bois domésticos), omnipresentes no Côa, são também espécies muito importantes na arte parietal paleolítica das grutas franco-cantábricas [Altamira e Lascaux, entre outras].”

O auroque da rocha 2, mais famosa pela pela figura humana da qual não tenho uma só foto publicável

O auroque da rocha 2: famosa pela figura humana da qual não tenho uma única foto publicável

Aproveito para reproduzir também alguns trechos de um texto do qual gosto muito, escrito por Luís Miguel Queirós para o Público em 2012:

“Como toda a arte paleolítica, as gravuras do Côa obedecem a representações estereotipadas – os animais são quase sempre figurados do mesmo modo, mesmo naqueles raros detalhes em que se afastam ligeiramente dos seus modelos vivos, como nas barrigas um nadinha acentuadas. Mas essa homogeneidade não significa que a sua execução estivesse ao alcance de qualquer um. A indiscutível perícia dos artistas do Côa sugere algum tipo de formação, de discipulato. ‘Uma espécie de escola de Belas-Artes’, ri-se [o arqueólogo] António Martinho Baptista [diretor do parque], não sendo todavia certo que o diga inteiramente a brincar.”

O cavalo da rocha 24, que está de perfil, mas encara o observador de frente (algo nada usual entre as gravuras do Côa

O cavalo da rocha 24, que está de perfil, mas nos encara de frente: algo nada usual

“Ao revelarem a existência de uma arte paleolítica ao ar livre produzida em grande escala”, escreve Queirós, “as descobertas no vale do Côa vieram estimular a investigação, e não será de espantar que se venham a fazer novas descobertas noutros locais. Mas, do que se conhece até agora, não há a menor dúvida de que o Côa é um caso único, não só pela concentração de vestígios – encontraram-se até este momento mais de mil rochas gravadas, das quais cerca de metade datarão do Paleolítico –, mas também pela própria qualidade das gravuras. ‘Não quero chamar ao Côa o vale sagrado’, diz Martinho Baptista, ‘mas acho que ali só eram mesmo autorizados a praticar, pelo status social do tempo, artistas a quem fosse reconhecida competência.’”

Perto das rochas 1 e 2: vida que segue entre as gravuras

Perto das rochas 1 e 2: vida que segue entre as gravuras

© Fotos: Eduardo Lima / Walkabout – Todos os direitos reservados

RIBEIRA DE PISCOS

RIBEIRA DE PISCOS

Dos mais de 60 sítios arqueológicos já identificados no Vale do Côa, apenas três estão abertos à visitação: Penascosa, Canada do Inferno e Ribeira de Piscos. Em 2012, conheci os dois primeiros. O terceiro visitei este ano, em setembro passado. Um de seus … Continuar lendo

PRESS TRIP 2014 – DIAS 7 a 11

Ritmo muito intenso de trabalho e poucas horas de sono desde que cheguei a Castelo Rodrigo, na segunda-feira passada. Por isso, vou resumir aqui, em um único post, os cinco últimos dias de viagem. Só assim conseguirei tirar o atraso dos relatos. Deixarei os detalhes de cada lugar visitado para quando voltar o Brasil.

Castelo Rodrigo é incrível, uma aldeia histórica situada no topo de uma colina com aproximadamente 800 metros de altura. Fica bem perto da fronteira com a Espanha e está funcionando como base para a exploração das gravuras rupestres do Vale do Côa. Ontem, visitei o sítio arqueológico de Penascosa. Hoje, o da Ribeira de Piscos. Ambos são extraordinários. Mas foi Penascosa o que mais me deixou boquiaberto. A visita, comandada pela bióloga Ana Berliner, foi noturna. Com luz artificial, a gravuras saltam muito mais aos olhos. E proporcionam ao visitante uma experiência inesquecível. Recomendo fortemente.

Além das gravuras, estive também na Reserva Natural da Faia Brava, guiado pelo biólogo Pedro Prata, e no Museu do Côa, onde fui conduzido por ninguém menos que o próprio diretor da instituição, o arqueólogo António Martinho Baptista.

Devo um agradecimento especialíssimo à Ana, que, além de me levar a Penascosa e viabilizar minha visita à Quinta de Ervamoira, está me recebendo com uma generosidade incomum em sua guesthouse, a Casa da Cisterna. E não poderia deixar de agradecer, ainda, à amável Sónia Teixeira, da Ervamoira, que hoje foi me buscar de Land Rover no fim da trilha para a Ribeira de Piscos. Sem essa quebrada de galho, eu não teria conseguido visitar a quinta.

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