MUSEU DO CÔA

Esse senhor que aparece na foto é um dos maiores especialistas do mundo em arte paleolítica. Seu nome: António Martinho do Carmo Baptista. Ele coordena todo o levantamento arqueológico no Vale do Côa desde 1995. Sabe tudo sobre as gravuras, evidentemente. E foi meu guia particular na visita que fiz ao Museu do Côa em setembro passado. Um privilégio. Não bastasse ser expert no assunto, Baptista é a simpatia em pessoa. Apaixonado pelo que faz, bem-humorado, didático… Enfim, o melhor cicerone que eu poderia desejar. Fiquei devendo mais essa aos meus anfitriões em Portugal, o pessoal do Turismo do Centro.

Baptista, diretor do museu: especialistas em arte paleolítica

Baptista, diretor do museu: especialistas em arte paleolítica

As imagens a seguir são reproduções gigantes de algumas gravuras espalhadas por diferentes sítios arqueológicos do vale. Ficam assim, fosforescentes, porque são iluminadas com luz negra. O museu é espetacular em todos os aspectos, a começar pelo seu projeto arquitetônico. E ainda tem um bom restaurante. Recomendo fortemente a costeleta de vitela mirandesa.

Cabra-montês - Rego de Vide - Rocha 1

Cabra-montês – Rego de Vide – Rocha 1

Veado - Vale de Cabrões - Rocha 1

Veado – Vale de Cabrões – Rocha 1

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Auroque – Fariseu – Rocha 1

© Fotos: Eduardo Lima / Walkabout – Todos os direitos reservados

PENASCOSA À NOITE

Cheguei ao sítio de Penascosa, no Parque Arqueológico do Côa, por volta das 19h30. Ainda era dia, mas a noite não demoraria a chegar. Faltavam uns 30, talvez 40 minutos. Aproveitei essa “folga” para fazer algumas fotos na beira do rio. Como se percebe na primeira imagem deste post, em Penascosa o Côa forma um vale bem aberto. Do lado de cá, na margem direira, há quase 30 rochas com gravuras. Do lado de lá, são mais de 60. A datação da maioria remete ao período mais antigo da arte rupestre naquela região: o Paleolítico Superior.

Rio Côa na altura do sítio arqueológico de Penascosa: quase 30 rochas com gravuras de um lado e mais de 60 do outro

Rio Côa na altura de Penascosa: quase 30 rochas com gravuras paleolíticas de um lado e mais de 60 do outro

Assim que começou a escurecer, juntei minha tralha e segui para as rochas. Ou melhor, fui direto à Rocha 3, na qual se observa um conjunto de animais sobrepostos, principalmente cabras e auroques. Para o arqueólogo António Martinho Baptista, diretor do parque, há uma clara associação simbólica entre as duas espécies – cujo significado, provavelmente, jamais sairá do campo das hipóteses. “Quem analisa a temática do Côa, a maneira de elaborar as figuras, verifica que todas elas são extremamente bem calibradas em termos estéticos”, diz o arqueólogo (aqui). “Tinham de ser [os autores] artistas de corpo inteiro. Daí serem chamados de verdadeiros iniciados na arte da gravura.”

Rocha 3: vários animais, principalmente cabras e auroques

Rocha 3: vários animais, principalmente cabras e auroques

Da Rocha 3 passei à 5. Depois, à Rocha 6. E foi só. Voltei para Castelo Rodrigo, onde estava hospedado, meio que entorpecido. A escuridão, o céu absurdamente estrelado, as gravuras destacadas pelo jogo de luz e sombra… Uma noite para nunca mais ser esquecida.

Rocha 6, na qual estão gravados dois cavalos e dois machos de cabra-montês

Rocha 6, na qual estão gravados dois cavalos e dois machos de cabra-montês

Detalhe da Rocha 5: outro macho de cabra-montês, uma das espécies mais comuns do Côa paleolítico

Detalhe da Rocha 5: outro macho de cabra-montês, uma das espécies mais comuns do Côa paleolítico

© Fotos: Eduardo Lima / Walkabout – Todos os direitos reservados