Aqui vão 16 fotos inéditas de um dos museus mais incríveis que eu já conheci: o Machado de Castro, em Coimbra. Seu acervo é riquíssimo, composto de milhares de peças de escultura, pintura, cerâmica, ourivesaria e têxteis, algumas com dois mil anos de história – 120 delas pertencentes ao Tesouro Nacional. Junto com as imagens, reproduzo alguns textos extraídos do próprio website do museu.
Capitel Sereia-Peixe
Este capitel, de grande riqueza iconográfica, apresenta um motivo típico do românico – a sereia-peixe. Inspirado num bestiário popular, de origem oriental, simboliza o mar e tem um significado benfazejo e protetor. A peça apresenta decoração assimétrica em três faces, com repetição do tema: uma sereia segurando um peixe na mão direita e erguendo a cauda com a outra.
Arca-relicário dos Mártires de Marrocos
Exemplo de escultura tumular, esta arca abre o capítulo da escultura gótica, constituindo o mais antigo documento iconográfico que testemunha o culto aos cinco mártires franciscanos. Foi executada para o Mosteiro de Lorvão, para acolher uma relíquia daqueles santos, concedida pelo monarca à Infanta D. Sancha. Destinada a ser embutida em arcossólio, apresenta apenas trabalhado um lado, formando seis edículas para albergar os cinco mártires e o monarca de Marrocos.
Cavaleiro Medieval
O cavaleiro representa Domingos Joanes, sepultado na Capela dos Ferreiros, como testemunham os atributos militares – elmo, cota de malha, escudo de armas e espada, sapatos de bico e esporas – e heráldicos – escudo de azul, com aspa de prata acompanhada de quatro flores-de-lis de ouro – que ostenta. A exaltação dos valores militares integra-se num contexto funerário, associando o cavaleiro a uma dimensão religiosa, bem característica da espiritualidade medieval.
Santo André
Estabelecendo os princípios de uma nova linguagem, Diogo-Pires-o-Velho introduz as primeiras manifestações da simbólica manuelina. A inovação surge na distribuição das roupas, de pregas finas caindo com naturalidade e delicadeza numa anatomia que se adivinha ainda rígida. Os traços mais originais concentram-se, no entanto, na cabeça, com a individualização da personagem: rosto sisudo, marcado por cabelos e barbas longos e escorridos, definidos por sulcos com leves ondulações, pescoço grosso, olhos rasgados, boca cerrada. Com um livro aberto na mão esquerda, tem em contraponto, à direita, encostada a si, uma cruz em forma de X – vulgarmente conhecida como cruz de Santo André – relativa à sua crucificação.
Anjo Heráldico
O Mosteiro de Santa Cruz representa, na época manuelina, um dos lugares míticos e sagrados da nacionalidade. Foi então protagonista de profunda remodelação, patrocinada diretamente pelo Rei, tendo sido a fachada coroada por dois grandes anjos heráldicos tutelares do monarca e do reino, simbolizados respetivamente pela esfera armilar e pelo seu escudo. Muito frequentes nas obras de Diogo Pires-o-Moço, especialmente sustentando brasões de armas, estes anjos mostram grande elevação e serenidade. O gosto pelo pitoresco, pelos pormenores, como o arranjo dos cabelos e o diadema que os cinge, o anelado, o firmal e os sebastos das vestes, são bem característicos deste artista.
Virgem da Anunciação
Imagem ímpar no panorama da escultura renascentista, representa a Virgem anunciada, ajoelhada sobre uma almofada, num genuflexório, em consonância com o modelo de representação comum no século 16 – a Virgem, surpresa, soergue o olhar e eleva a mão ao coração. De certo modo, esta peça, atribuída ao Mestre dos Túmulos Reais, constitui um enigma, objeto de estudos e teses, relativamente à sua iconografia e à identificação do artista que a produziu. Há autores que consideram que a peça faria conjunto com um anjo anunciador, entretanto desaparecido. Outros entendem que essa figura complementar não era necessária, pois está representada no medalhão do genuflexório.
Deposição no Túmulo
Produzida na primeira fase da obra do escultor normando João de Ruão, esta composição é considerada uma das suas obras-primas. Apresenta São João e as santas mulheres, trajando à moda do século 16, em movimentos comedidos, apenas adivinhados por ligeira torção dos corpos. A representação dos panejamentos e a delicadeza dos pormenores impressionam pela correção. O impacto desta composição na época foi tão elevado que levou outras oficinas a reproduzir o mesmo tema, embora em variações menores.
Última Ceia
Este conjunto escultórico representa a Última Ceia, uma das mais impressionantes obras de escultura do renascimento europeu, devidas ao génio de Filipe Hodart. Modeladas em barro cozido, as figuras de Cristo e os seus Apóstolos, que constituem este conjunto, usam traje à época, possuindo elementos comuns que contrastam com uma forte individualização de cada uma das personagens. Hodart retratou figuras populares, identificadas na época com personagens conhecidas no quotidiano do Mosteiro de Santa Cruz, para o qual a obra foi executada. Eram mendigos ou trabalhadores das obras que aí decorriam.
Custódia
De grande efeito cenográfico é esta custódia, devido ao contraste entre a madeira policroma do anjo, o resplendor de prata e o brilho das pedras do hostiário. Este anjo – qual atlante – sustenta um monumental hostiário esférico, liso e polido, envolto por glória de raios recortados. O viril apresenta cercadura com símbolos eucarísticos realçados pela policromia dos esmaltes. Está montado sobre uma placa circular ornada de oito cabeças aladas em prata dourada. Completam esta decoração motivos vegetalistas e várias pedras coloridas formando flores. Pertenceu ao Convento do Sacramento de Alcântara, em Lisboa.
Fotos: © Eduardo Lima / Walkabout