Você provavelmente sabe: o Alto Douro, na região Norte de Portugal, só é patrimônio da humanidade por causa do vinho, ou melhor, da cultura das vinhas. Antigamente, quase tudo que se produzia de uva no Douro virava vinho do porto. Uma parcela muito significativa ainda vira, mas a coisa vem mudando bastante. Na última década, as vendas de vinhos de mesa com denominação de origem Douro mais do que duplicaram, passando de 26 milhões de garrafas para 53,2 milhões. A informação é do jornalista português Manuel Carvalho, que assina uma reportagem no portal Público intitulada A explosão dos DOC Douro (para lê-la na íntegra, clique aqui). Reproduzo a seguir alguns trechos, com fotos feitas por mim em 2012.
Com as vendas globais em volume do vinho do Porto a declinarem há mais de uma década, há um novo actor que, a cada ano que passa, fica no centro das atenções das empresas e dos produtores: o DOC Douro. (…) Actualmente, o volume de vinho do Douro comercializado representa já 53% das quantidades de vinho do Porto vendidas – em 2005, representavam 16%. Enquanto o vinho do Porto regride em volume, o DOC Douro tem crescido a ritmos na ordem dos dois dígitos.
“Uma grande parte do mercado do vinho do Douro [63% em 2017] está em Portugal, e aqui a concorrência pode levar a um esgotamento da actual tendência de crescimento, pelo que é necessário procurar alternativas lá fora”, diz António Filipe, do grupo Symington que, à semelhança da quase generalidade de empresas do sector, apostou neste segmento dos vinhos durienses.
As opiniões de diferentes matizes sobre o futuro do DOC Douro não escondem o essencial: o vinho do Porto tem hoje um rival, ou um complemento, fundamental na estratégia das empresas e da produção duriense. Hoje, só a Fladgate Partnership se mantém fiel em exclusivo ao vinho do Porto. Todas as outras têm em curso estratégias de desenvolvimento dos vinhos tranquilos. Algumas, casos da Ferreira ou da Niepoort, são hoje mais empresas de DOC Douro do que de vinho do Porto.
O problema maior do DOC Douro não está no volume, mas no preço. Na última década, o valor médio por litro cresceu pouco: de 3,72 euros para 3,94 em 2017. Mais: de 2013 para 2017, o litro depreciou-se até em 10 cêntimos por litro. Sendo o Douro uma região pouco produtiva e montanhosa, o que é um entrave à mecanização, uma grande parte do vinho do Douro está a chegar ao mercado a preços abaixo do custo. Uma vez que uma mesma vinha duriense produz vinho fortificado e vinho tranquilo, e dado que os preços na produção do vinho do Porto são entre 4 e 5 vezes mais elevados, está a haver uma transferência (ou, como também se diz, uma “subsidiação”) do vinho do Porto ao DOC Douro.
© Fotos: Eduardo Lima / Walkabout