Sabe quais são os lugares de Portugal que podem virar patrimônio da humanidade em breve? A lista indicativa do país ao título concedido pela UNESCO foi definida em maio de 2016 e é composta de 22 bens. Alguns eu conheço, como o centro histórico de Lisboa e a Baixa Pombalina. Também já estive em algumas das Fortalezas Abaluartadas da Raia. E bati muita perna nas Levadas da Madeira. Nos outros 17 patrimônios listados, entretanto, jamais coloquei os pés. Mas não há de ser nada. Fotografarei todos eles, ainda que leve algum tempo para entregar o prometido.
A lista completa dos locais portugueses que almejam o status de patrimônio mundial é a seguinte:
1. Aqueduto das Águas Livres, Lisboa: foi construído no século 18 e abasteceu a cidade durante mais de 200 anos. Ele atravessa cinco concelhos (Lisboa, Amadora, Oeiras, Sintra e Odivelas), com extensão total de 58 quilômetros. “É uma obra única no mundo em termos de representação histórica do abastecimento de água nos séculos 18 e 19, além de ser um símbolo do engenho e da inteligência dos portugueses”, declarou Margarida Ruas, diretora do Museu da Água, em entrevista à agência de notícias Lusa.
2. Caminhos Portugueses de Peregrinação a Santiago de Compostela: são as rotas de peregrinação abertas em Portugal, a partir do século 9, como forma de afirmação da fé católica e de devoção ao apóstolo São Tiago, cujo túmulo se encontra naquela que é hoje a cidade espanhola de Santiago de Compostela. Os caminhos criados na Espanha e na França já foram classificados como patrimônio da humanidade – em 1993 e 1998, respectivamente. Agora, chegou a vez das rotas portuguesas.
3. Zona de Couros, Guimarães: essa área da cidade, cujo centro histórico já foi declarado patrimônio mundial, encerra vestígios de uma longa tradição: o trabalho do couro, atividade desenvolvida ali desde a Idade Média. Ao longo de séculos, as matérias-primas dessa indústria foram os couros do gado bovino abatido na região. Depois, vieram as peles oriundas do Brasil e de outras províncias ultramarinas, como Angola e Moçambique. No século 19 e na primeira metade do século 20, os cortumes de Guimarães conheceram seu apogeu. A partir da década de 1960, porém, eles entraram de declínio – devido, principalmente, à insalubridade que envolvia os processos produtivos, ao atraso tecnológico e à transferência de investimentos para a indústria têxtil.
4. Complexo Industrial Romano de Salga e Conserva de Peixe, Tróia: sítio arqueológico provavelmente ocupado entre os séculos 1 e 6 da Era Cristã. As escavações, realizadas desde o século 18, revelaram vestígios de construções romanas numa área que se estende desde a boca da Laguna da Caldeira até a Base Naval de Tróia, numa extensão de 1,5 quilômetro. A grande concentração de tanques de salga de peixe constitui o elemento mais característico. Além das oficinas de salga, foram descobertas também algumas termas, um núcleo habitacional, necrópoles, um columbarium utilizado como mausoléu, poços, uma roda d´água e uma basílica paleocristã com pinturas murais.
5. Fortalezas Abaluartadas da Raia: trata-se de uma candidatura conjunta, proposta pelos municípios de Almeida, Elvas, Marvão e Valença. O sistema defensivo da Raia Luso-Espanhola, distribuído ao longo de uma das linhas de fronteira mais antigas do mundo, reúne exemplares únicos da arquitetura militar dos séculos 17 e 18.
6. Conjunto de Obras Arquitetônicas de Álvaro Siza: o arquiteto português é considerado um dos grandes mestres mundiais em seu ofício. A linguagem arquitetônica criada por ele mistura modernidade e tradição, o que torna sua obra algo difícil de ser rotulada. O interesse que Siza sempre demonstrou pela escultura tem claro reflexo em suas construções.
7. Costa Sudoeste: este pedaço de litoral entre o Algarve e o Alentejo quer o título de patrimônio natural da humanidade. Sua área compreende a costa atlântica entre São Torpes e Burgau, bem como o espaço marítimo paralelo de 2 quilômetros a partir da linha de costa, correspondendo à área do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
8. Deserto dos Carmelitas Descalços e Conjunto Edificado do Palace-Hotel, Buçaco: ficam na Floresta Nacional do Buçaco, uma área de mata rodeada por um muro com vários portões espalhados por todo o perímetro, que dão acesso aos bosques que rodeiam a igreja, parte do Convento dos Carmelitas, um palácio monumental e vários outros edifícios de natureza religiosa.
9. Dorsal Médio-Atlântica: outro candidato a patrimônio natural da humanidade. Inclui parte das nove ilhas do arquipélago dos Açores e dos seus 596 ilhéus, o mar territorial, a subárea dos Açores da Zona Econômica Exclusiva Portuguesa e a plataforma estendida contígua. Nessa área, destacam-se como formações geológicas relevantes os montes submarinos D. João de Castro, Condor, Princesa Alice, Sedlo, Altair e Antialtair e os complexos de montes submarinos MARNA (Mid Atlantic Ridge North of the Azores) e Meteor, assim como os campos hidrotermais de profundidade a sudoeste do arquipélago – todos incluídos no Parque Marinho dos Açores.
10. Edifício-sede e Parque da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa: segundo a Direção-Geral do Património Cultural, trata-se de uma “obra de dimensão, programa e qualidade invulgar no quadro da produção arquitectónica nacional”. O complexo modernista de edifícios, que inclui a sede da fundação, o Museu Gulbenkian e o jardim circundante, foi alçado em 2010 à condição de Monumento Nacional – transformando-se na primeira obra contemporânea a ser considerada patrimônio em Portugal.
11. Levadas da Madeira: a Comissão Nacional da UNESCO em Portugal classifica este complexo sistema de irrigação como “uma peça notável e invulgar da história”, sublinhando que as levadas são “indiscutivelmente um património cultural tão excepcional que transcende as fronteiras nacionais e se reveste de carácter inestimável para as gerações actuais e futuras”. Embora não constituam um sistema exclusivo daquela região, elas se diferenciam de outros sistemas hidráulicos semelhantes pelas “condições adversas de acessibilidade e edificação conferidas pela geomorfologia da ilha e pela grandiosa extensão de canais ou aquedutos erigidos numa ilha de pequena dimensão.”
12. Ilhas Selvagens: o subarquipélago da Madeira, assim batizado em 1438 pelo navegador português Diogo Gomes, permanece selvagem até hoje, totalmente desabitado. Trata-se de um santuário de aves marinhas, protegido por lei desde 1971. O oceanógrafo e ambientalista francês Jacques Cousteau costumava dizer que, nas Selvagens, encontrou as águas mais limpas e cristalinas de sua longa trajetória como mergulhador.
13. Icnofósseis de Dinossauros da Península Ibérica: inclui oito jazidas na Espanha e três em Portugal – Pedreira do Galinha, Vale de Meios e Pedra da Mua. Numa das trilhas em território português, encontram-se pegadas de uma família inteira de dinossauros, com vestígios de dois indivíduos adultos e três jovens animais.
14. Lugares de Globalização: mais uma candidatura coletiva, apresentada em conjunto pelos concelhos de Vila do Bispo, Lagos, Aljezur, Monchique e Silves. Os arquipélagos da Madeira e dos Açores, assim como Cabo Verde, Ceuta, Mauritânia e Marrocos, também integram a proposta apresentada à UNESCO, numa verdadeira rede universal de conhecimento e descoberta.
15. Mértola: vila alentejana de povoamento precoce, que remonta ao Neolítico, há 5 mil anos. Foi ocupa por iberos, fenícios, gregos e cartagineses, todos interessados na sua posição estratégica para o controle das rotas comerciais. A romanização deu-se ao longo do século 2 a.C.. Com a invasão dos povos do Norte de África, em 711, o lugar passa a ser chamado de Martulah, de onde deriva seu nome atual.
16. Lisboa Pombalina: corresponde a toda a área da cidade reconstruída sob o comando do Marquês de Pombal após o terremoto de 1755. Situa-se entre o Terreiro do Paço, junto ao Rio Tejo, e o Rossio e a Praça da Figueira. Longitudinalmente, distribui-se entre o Cais do Sodré, o Chiado e o Carmo, de um lado, e a Sé e a colina do Castelo de São Jorge, do outro.
17. Paisagem Cultural do Montado: Portugal tem maior mancha de montado de sobro do mundo, com perto de 750 mil hectares (ou cerca de 20% de toda a cobertura florestal portuguesa). O país produz mais de 50% da cortiça mundial e exporta mais de 900 milhões de euros em materiais ligados à cortiça por ano. Alentejo e Ribatejo são as regiões onde mais predomina o montado.
18. Palácio Nacional de Mafra: com 300 anos de história, é considerado uma obra-prima do Barroco europeu. Sobreviveu a catástrofes como o terremoto de 1755, as invasões francesas e a guerra civil. E testemunhou outros tantos fatos históricos – da extinção das ordens religiosas, em 1834, à proclamação da República, em 1910. A candidatura inclui também o convento, a tapada e o Jardim do Cerco.
19. Rota de Magalhães: a proposta é capitaneada pela Rede Mundial das Cidades Magalhânicas, criada em 2013 para preparar a comemoração dos 500 anos da primeira viagem de volta ao mundo da história, comandada pelo navegador Fernão de Magalhães em 1519. Embora seja liderada por Portugal, a candidatura envolve outros países, entre eles Espanha, Chile, Argentina, Filipinas e Brasil.
20. Santuário do Bom Jesus do Monte, Braga: é constituído por um conjunto arquitetônico e paisagístico que inclui uma igreja, um escadório onde se desenvolve a via-sacra, uma mata, alguns hotéis e um funicular. A área de classificação contempla toda área envolvente ao santuário, com cerca de 25 hectares.
21. Vila Viçosa: a candidatura desta vila alentejana, também conhecida como Vila Museu, inclui não apenas seu casario histórico, mas também o legado musical, a tapeçaria, a azulejaria, os afrescos, a armaria, as coleções de carruagens e até a doçaria tradicional. Não por acaso, o documento entregue à UNESCO leva o título de Vila Viçosa: Paisagem Urbana, Arquitectónica, Histórica e Cultural.
22. Lisboa Histórica, Cidade Global: o bem proposto, candidato a patrimônio mundial na categoria Centro Histórico, integra o território envolvido pela Cerca Fernandina, que abrange os setores mais antigos da cidade, os núcleos de Santa Clara, São Vicente e Mouraria, os colégios jesuítas (Santo Antão-o-Velho, Santo Antão-o-Novo e Noviciado da Cotovia), enquanto locais de ensino de matérias científicas que constituíram grande contributo para a navegação, o Bairro Alto e o Mocambo, bairros criados na sequência dos Descobrimentos, e a frente ribeirinha, entre o Cais do Sodré e Santa Apolónia. Inclui ainda os principais mirantes (miradouros) da cidade, que permitem uma sucessão de pontos de vista classificados como de elevada qualidade cênica.
© Fotos: Eduardo Lima / Walkabout – Todos os direitos reservados
Atenção: COMISSÃO NACIONAL DA UNESCO EM PORTUGAL, esqueceram-se de citar: a FORCA na freguesia de BEM VIVER no MARCO DE CANAVESES