No post anterior, escrevi sobre a suposta origem romana e medieval do nome Mondego, o rio que atravessa a cidade de Coimbra. Mas não tratei de uma lenda luso-mourisca que também pode explicá-lo. Segundo essa narrativa, a palavra seria derivada de “Mon Diego”, em alusão ao lamento de uma princesa pela ausência de seu amor, um valente cavaleiro que teria morrido em combate contra os mouros. A história é bonita, romântica que ela só, mas não me parece tão verossímil quanto a hipótese que associa a origem do nome ao termo “Mondecus” (clique aqui para conhecê-la).
Também no post anterior, disse que nenhum outro rio português foi mais cantado em prosa e verso que o Mondego. Aqui vão mais três exemplos de homenagens feitas ao rio por grandes artistas de Portugal. Primeiro, um trecho do poema Fábula del Mondego, escrito no século 16 por Sá de Miranda (autor que, embora tenha nascido e estudado em Coimbra, escrevia seus versos em espanhol). Depois, o poema Anunciação, assinado por Miguel Torga, um dos mais influentes poetas e escritores portugueses do século 20. Por fim, a letra do fado Do Choupal até à Lapa, imortalizado na voz do fadista Zeca Afonso.
Entre el gran Duero y Tajo, el buen Mondego
(ya Munda, que es decir, clara agua y pura)
Se va por los sus campos paseando;
Parece que, saliendo d´estrechura,
El trabajo vencido, entra el sociego,
Y quedo a su ciubdad muestra va dando
Fábula Del Mondego, Sá de Miranda
Surdo murmúrio do rio,
a deslizar, pausado, na planura.
Mensageiro moroso
dum recado comprido,
di-lo sem pressa ao alarmado ouvido
dos salgueirais:
a neve derreteu
nos píncaros da serra;
o gado berra
dentro dos currais,
a lembrar aos zagais
o fim do cativeiro;
anda no ar um perfumado cheiro
a terra revolvida;
o vento emudeceu;
o sol desceu;
a primavera vai chegar, florida.
Anunciação, Miguel Torga
Oh Coimbra do Mondego
e dos amores que eu lá tive
quem te não viu anda cego
quem te não ama não vive
quem te não viu anda cego
quem te não ama não vive
Do Choupal até à Lapa
foi Coimbra meus amores
e sombra da minha capa
deu no chão abriu em flores
Do Choupal até à Lapa, Zeca Afonso
© Fotos: Eduardo Lima / Walkabout – Todos os direitos reservados
Coimbra é sem dúvida a “minha” cidade!
Está entre as minhas preferidas, Dylan. Um abraço e muito obrigado por acompanhar este blog.
Eduardo Lima
Portugal – Patrimônios da Humanidade
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