Coimbra não teria o mesmo encanto se não fosse o Mondego, quinto maior rio português, com mais de 250 quilômetros de extensão, e primeiro do ranking entre aqueles que têm seu curso inteiramente em Portugal. Dizem que seu nome vem dos tempos de ocupação romana, quando era chamado de “Munda” ou “Monda” – palavra correspondente a transparência, claridade, pureza. Na Idade Média, teria sido juntado a esse termo o sufixo “ecus”, cujo significado seria “carinho”. Tudo leva a crer, portanto, que o atual nome, Mondego, nada mais é que uma evolução de “Mondecus”, algo como “nosso Monda” ou “querido Monda”.
Pode até não haver consenso quanto à origem do nome, mas uma coisa é certa: nenhum outro rio português foi mais cantado em prosa e verso que o Mondego. Deixo aqui, como exemplo, um soneto assinado por ninguém menos que Camões.
Doces e claras águas do Mondego,
Doce repouso de minha lembrança,
Onde a comprida e pérfida esperança
Longo tempo após si me trouxe cego,
De vós me aparto, sim; porém, não nego
Que inda a longa memória, que me alcança,
Me não deixa de vós fazer mudança;
Mas quanto mais me alongo, mais me achego.
Bem poderá a Fortuna este instrumento
Da alma levar por terra nova e estranha.
Oferecido ao mar remoto, ao vento.
Mas alma, que de cá vos acompanha,
Nas asas do ligeiro pensamento,
Para vós, águas, voa, e em vós se banha.
Soneto CXXXIII, Luís Vaz de Camões
© Foto: Eduardo Lima / Walkabout – Todos os direitos reservados
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